Sherlock Holmes e a arte de roubar no jogo.

Esses dias terminei de ler (ou reler, porque acho que já tinha lido há uns 20 anos atrás) O Cão dos Baskervilles, livro escrito por Arthur Conan Doyle em 1902.

O livro começa com a morte do magnata Sir Charles Baskerville, encontrado caído na sua propriedade vítima de um ataque cardíaco. Entra Dr. Mortimer, amigo de Charles, que suspeitando do envolvimento de elementos sobrenaturais resolve contratar os serviços de Sherlock Holmes para investigar o que diabos está acontecendo e o que pode ser feito para evitar que o herdeiro Henry Baskerville seja poupado desse destino.

Diferente dos outros contos do detetive e por motivos que vale mais a pena ler no livro do que neste texto, desta vez Holmes fica ausente por quase metade dos capítulos e dá espaço para o seu companheiro Dr. John H. Watson brilhar. É divertido acompanhar Watson em cada uma das suas descobertas e nos relatórios detalhados que envia a Holmes. Você chega até a se identificar com Watson quando chega a hora dele decidir se é melhor proteger o seu cliente de uma possível morte horrível ou se é melhor dar espaço para ele tentar conquistar a mulher pela qual está apaixonado — e você ainda não viveu se nunca teve que decidir isso.

Mas se você é um leitor ávido desse gênero, sabe que nada disso importa para o caso porque 1) sabe que Sherlock Holmes irá voltar eventualmente e 2) sabe que o caso será solucionado por uma pista que só Holmes enxergará.

E isso é uma merda. É uma merda que você consegue prever e enxergar lá de longe porque sabe que é assim que a vida funciona nesse tipo de história, seja Holmes ou qualquer outro desses detetives fantásticos, mas mesmo assim: é uma merda.

Há alguns anos atrás a minha linda esposa me perguntou se eu gostava de Agatha Christie. Ela se surpreendeu quando eu respondi que nunca havia lido nada dela, mas mesmo assim me indicou O Caso dos Dez Negrinhos (Ou E Não Sobrou Nenhum, dependendo de quando você nasceu). Olhei pro livro e perguntei:

– Mas ela rouba no jogo?

Para mim “roubar no jogo” é quando o autor deliberadamente esconde fatos importantes e rouba a oportunidade do leitor solucionar um problema por conta própria só porque acha que irá roubar aquele “ARRÁ!” do seu fantástico personagem principal.

Mas enfim, dentro desse gênero de que o personagem principal é mágico e consegue ter uma visão que somente ele consegue ter, pelo menos O Cão dos Baskerville permite ao leitor se enganar durante meio livro de que ele pode ter algum tipo de competência para substituir um ausente Sherlock Holmes.

Continuo seguindo com ficções científicas, suspenses e horrores…

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